Passos que me levam a .....eles!
Por Aline Magalhães
Sapatos, qual a mulher que não se derrete em frente a uma vitrine cheia deles?
Quantas noites mal dormidas sonhando com aquele sapato maravilhoso e que o orçamento não consegue atingir!
Como não lembrar... momento interrompido por uma loja de sapatos que acaba de me ligar, estão tentando me enviar um email, como comprei lá à muito tempo meu endereço eletrônico mudou, lá eu comprei a minha bota mais maravilhosa de todos os tempos: ela é feita de vários tons, desde o caramelo ao marrom, bem no estilo setentinha, fazendo recortes que remetem a essa época. A primeira vez que a vi foi em um outdoor e depois comecei a procurá-la como quando estamos com uma vontade enorme de comer doces, até encontrá-la! Era da marca Luiza Barcelos, da época em que sua mãe estava à frente da empresa, uma senhora muito elegante e simpática. E quem iria adivinhar que anos depois conheceria a própria Luiza? E sua fábrica de sonhos! Foi emocionante!
Como não se imaginar uma verdadeira cinderela em busca de seu par perfeito? Ou seriam pares perfeitos? De sandálias, sapatilhas, scarpins, botas..... Não é atoa que Afrodite, deusa grega do amor, é frequentemente representada nua com apenas um par de sandálias nos pés.
Eu tinha a síndrome da baixinha, que afeta a maioria das mulheres com menos de 1,65 de altura e não admitia usar nada que não tivesse pelo menos 4 cm de salto. E para a minha alegria, nessa época, por volta de 1996 a 2003 a moda apontava mesmo para as super confortáveis anabelas e plataformas. Foram tantas! Desde as em tom bege às multicoloridas, fazendo a alegria de nosso verão brasileiro.
Independente da percepção de cada um, seja de paixão levando a obsessão, seja de indiferença total, a verdade é que os sapatos fazem parte da construção de nossa identidade pessoal. Os sapatos sempre representaram o status social e a situação econômica de quem usa. Nobres eram respeitados pelo tamanho do bico de seus sapatos na corte francesa, quanto maiores, mais importante era a pessoa que os estava usando. As mulheres da aristocracia usavam sapatos completamente diferentes dos das criadas que geralmente eram mais robustos, feitos para durar mais tempo. E o tempo, a cultura, o poder, desde sempre foram representados também pelos sapatos.
E seguindo pela história a fora até os dias de hoje ainda encontramos tais diferenciações, não tão dispares, mas perceptíveis, principalmente no mundo da moda. Sabemos quem é mais conservador, quem é mais fashion, mais ousado, mais alegre, extrovertido e introvertido, quem quer seduzir e ser seduzido, tudo, através dos sapatos.
A própria sandália Havainas, sucesso mundial hoje, em seu início, em meados da década de 60/70 era rotulada como uma sandália para pessoas de baixa renda, mas graças a uma super estratégia de marketing e uma grande vontade de “abocanhar” um novo seguimento de mercado, a havainas se tornou um ícone nacional, amada em todo mundo e usada por qualquer pessoa independente de sua situação econômica e passeia hoje também por lugares que jamais se imaginaria uma pessoa ir usando sandálias de borracha. Conheço uma moça, psicóloga, que possui mais de duzentos pares de havainas, podemos imaginar? A cada nova coleção lá esta ela, ávida atrás de seu novo par de sandálias.
Para mim, David Evins, com suas criações clássicas, adorado pelas estrelas de cinema da década de 60; André Perugia, famoso por suas sandálias feitas em correntes na década de 50; Roger Vivier, com criações modernas baseadas no século XVIII; Manolo Blahnik, com seus famosos scaprins com solas vermelhas; Dave Little, com suas texanas botas cowboy super decoradas; Salvatore Ferragamo, por seus famosos e artesanais sapatos italianos; entre tantos outros, fazem verdadeiras obras de artes. Não são simplesmente sapatos para se calçar, são jóias, esculpidas com cuidado, bordadas, trabalhadas, decoradas com pedras e contas, feitas à mão, com todo o requinte que uma obra de arte merece.
É claro que existem tendência, sim, os estilistas se utilizam delas para criar suas coleções e não fugirem muito do que se vai consumir, mas para mim, sapatos são atemporais. É claro que nos remetem a uma determinada época, justamente por causa das tendências, mas quando compro um sapato, compro por que me apaixonei e uso este sapato até enjoar. Tenho sapatos de 15 anos atrás e os uso até hoje e como nossos pés não costumam engordar ou emagrecer como nosso corpo, poderão ser usados por muitos e muitos anos ao gosto do freguês.
Em Minas, Estado famoso por sua criatividade, grandes nomes conhecidos nacionalmente destacam-se por suas criações criativas e de qualidade reconhecida também internacionalmente como Paula Bahia e Débora Germani, que fazem sapatos com design super diferenciado e com um conforto sem igual.
E nacionalmente não poderia deixar de falar de Francesca Giobbi e Sarah Chofakian que imprimem em suas coleções o verdadeiro sentido da moda: criatividade, bom gosto e qualidade. E sei que Francesca, além de tudo, ama o que faz, e imprimi em seu trabalho este amor e esta dedicação. Ambas são meus objetos de desejo sempre.
A série americana Sex and the City, baseada no livro de mesmo nome do autor Candace Bushnell, foi apresentada na TV em 1998 perdurando até 2004 tornando-se posteriormente um filme, é um verdadeiro deleite para as “sapatrólogas” de plantão, onde a protagonista Carrie, interpretada por Sarah Jessica Parker, que também na vida real é uma apaixonada por sapatos, possui um closet que é sonho de consumo de nove entre dez mulheres mundo a fora. A ex-primeira dama das Filipinas Imelda Marcos conhecida como a maior colecionadora de sapatos do mundo, criou um museu para mostrar ao grande público seus mais de três mil pares de sapatos e bem pertinho dos brasileiros, a atriz Claudia se diz uma admiradora de sapatos, possuindo mais de cem pares.
Só sei que, como o primeiro sutiã, que nós mulheres nunca esquecemos, nosso primeiro sapatinho, o primeiro sapato que consegui comprar com meu próprio dinheiro e aquele que não consegui, causa em nós mulheres (será que em alguns homens também?) uma indecifrável atração desencadeando em fantasias e sonhos pessoais. Será um vício? Uma fuga? Um desequilíbrio emocional ou simplesmente um fascínio por um objeto que, além de ser útil, de ter uma memória afetiva, produz essa atração quase fatal, e ao longo dos séculos nos convidam a rememorar histórias de Reis e Rainhas, impérios perdidos e batalhas vencidas, barreiras transpostas e marcas eternizadas pelo homem desde o nobre a um simples artesão.
Um comentário:
Muito bom o texto!
Reflexão sobre sapatos é fantástico!
Belíssima abordagem sobre um de nossos amores!
Realmente remetem a sonhos, e sonhamos com o par da vez!
Trata-se, sim, de reflexo de nossa personalidade, reveladores de identidade.
São jóias! Bem dito isso!
São mesmo jóias, pelo trabalho desempenhado ao fazê-los, pelo conforto que proporcionam, pelo carinho com que são elaborados.
Muito bom o texto, amiga!
Beijo!
http://tengavolantes.blogspot.com
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